quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Página (a Leminski)

.
Esta página, por exemplo,
não é vidraça nem pedra
nem planta deste planeta
provável fazer-se tonta
possível fi-la de besta

esta página é pra lida
não precisa tradução
nem se sente ressentida
da ditadura do vão

nos longes do tempo infindo
das sombras de uma intenção
não será matéria impressa
ficará mera impressão
uma imagem refletida
no vídeo, tela-visão.

domingo, 16 de setembro de 2012

pequenos defeitos



pois eu nunca tive defeitos pequenos
há tempos não peno sonhando-me o eleito
exceto uns senões sou até bom sujeito
tirante o sem jeito até sou mais ou menos

o réu mais direito a mim mesmo condeno
confuso e sereno confesso e suspeito
beirando ao ingênuo meu caos é conceito
demais contrafeito do próprio veneno

sou juras e juros cobrados na fonte
desculpas aos montes e enormes securas
temendo a censura que vê no horizonte

do meio da ponte meu salto procura
que a própria paúra por fim se amedronte
e um verso desponte de cada fratura

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Cômodo

Como doeu? nem tantas dores essas...
De procurar em mim o que perdeu
perdeu pra sempre o tempo - não só seu -
e o tempo enfim perdeu nossas promessas

Incômodo? não foi por nossa pressa...
Não flui. Deu tudo errado e nada d'eu,
aquele que era crente e prometeu,
querer contar do cômodo às avessas

quanto sobrou de fel? Quando eu dormia
sozinho em meu inferno ao meio-dia
por que a imensa noite como eu sou?

Pois acabou, restaram tédio e contas
passado acomodou presente a ponta
eis pronto o após - um porre que passou.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Coração


Bombeia o coração dentro do peito
o sangue, e entre venoso e arterial
trabalha sem ciúmes, afinal
não pode ele entender o que é despeito

Paixão não nasce ali, não há sujeito
então não é sensível nem boçal
mas músculo importante, essencial
fazendo aquilo pra que fora feito

O cérebro controla, e é quem ordena
que sintamos paixões, tenhamos pena
enquanto o coração só pulsa, e pronto

por ordens que lhe dão, não age a esmo
mas sempre quando falo de mim mesmo
estranhamente ao peito é que eu aponto...

quarta-feira, 21 de março de 2012

Todo sol nasce atrasado

O que faz o dia merecer a pena
o que justifica verso e circunstância
e se pede escrita e som de chuva à noite

Porque ventos, lua, as intenções perguntam
à linha bruta, ao ponto tenso
o movimento inexorável de dinheiro
carreira, profissão e família vão
e o que soçobra rima

É, sim, um tempão mais um rosto
e falta pouco, já
faz falta, um pouco

E quando penso o fundo estou de tarde e note:
todo sol nasce atrasado hoje em dia
a rua chora aindas.

Lembro d'outra batida e terrenos firmes
quase acredito leveza

Mas não, mais não que acaba logo
e depois se faz o quê?