o tempo, que atravessa e queima pontes
é o mesmo que, saudoso, se arrepende
é novo, crê que há glórias no horizonte
e é velho, cura as chagas no presente
o tempo, que não cura nem responde
é o mesmo que ameniza e até resolve
é novo, planta o sonho e voa longe
e é velho, logo saca seu revólver
o tempo, que nos bate de porrete
é o mesmo em que o pecado se comete
é novo quando estende seu tapete
e é velho quando o efêmero derrete
é novo, mas também é sabonete
e é velho, mas também é um pivete
quarta-feira, 16 de novembro de 2016
domingo, 30 de outubro de 2016
ódio
eu não supero a raiva, odeio forte
e tremo de desejo de vingança
um sentimento vil, que não amansa
cortante, e que procura algo que corte
é o próprio combustível e transporte
a cópia cancerosa da esperança
meu ódio, ele se esbalda na matança
mas não se satisfaz sequer co a morte
enoja, me apodrece, gasta e rança
também revitaliza e reconforta
me serve como escudo e como lança
dá gana pra chegar co os pés na porta
me leva onde a clemência não alcança
e ensina que inocência é coisa morta
e tremo de desejo de vingança
um sentimento vil, que não amansa
cortante, e que procura algo que corte
é o próprio combustível e transporte
a cópia cancerosa da esperança
meu ódio, ele se esbalda na matança
mas não se satisfaz sequer co a morte
enoja, me apodrece, gasta e rança
também revitaliza e reconforta
me serve como escudo e como lança
dá gana pra chegar co os pés na porta
me leva onde a clemência não alcança
e ensina que inocência é coisa morta
segunda-feira, 17 de outubro de 2016
à esposa
que eu amo há tantos anos sem poemas
sem música, sem métrica nem rima
sem forma definida, muito acima
e além de planos, método ou sistema
assim esse soneto só blasfema
o amor, que o melhor texto o subestima
até porque não sou quem bem exprima
o sentimento em letras ou fonemas
mas digo: te encontrar foi muita sorte
a moça massa, a mina foda e forte
consorte e musa em todo e qualquer tema
amor que em mim é a própria poesia
te amo mais que um verso apontaria
por mais legal que fosse o tal poema
terça-feira, 11 de outubro de 2016
olhos amarelos
seus olhos refletiam amarelos
e eu perderia a hora para olhá-los
lembravam-me sonatas, caramelos
meus olhos esquecidos, seus vassalos
e os olhos se encontraram, foram elos
apagando temores, tombos, calos
fagulhas derretendo nossos gelos
lançaram-se os pudores pelos ralos
e os olhos viram corpos nos espelhos
explorando os contornos e os atalhos
seus olhos flamejantes, tão vermelhos
reluziam suores como orvalho
por isso que, apesar dos bons conselhos
não pude vir mais cedo pro trabalho.
e eu perderia a hora para olhá-los
lembravam-me sonatas, caramelos
meus olhos esquecidos, seus vassalos
e os olhos se encontraram, foram elos
apagando temores, tombos, calos
fagulhas derretendo nossos gelos
lançaram-se os pudores pelos ralos
e os olhos viram corpos nos espelhos
explorando os contornos e os atalhos
seus olhos flamejantes, tão vermelhos
reluziam suores como orvalho
por isso que, apesar dos bons conselhos
não pude vir mais cedo pro trabalho.
domingo, 9 de outubro de 2016
alternando metros (estudo)
.
no som, soneto, o som... me diga, o deca
poderá se alternar co um verso alexandrino?
ou soa mal, e alguém, tentando, peca
e fica muito brega achando que isso é fino?
poderá se alternar co um verso alexandrino?
ou soa mal, e alguém, tentando, peca
e fica muito brega achando que isso é fino?
quem lê, se achar estranho, eu sei, disseca
o verso até que vê, e enxerga cristalino:
quem fez não segurou bem a peteca,
ou não sabe escandir ou fez por desatino.
o verso até que vê, e enxerga cristalino:
quem fez não segurou bem a peteca,
ou não sabe escandir ou fez por desatino.
somente o som, soneto, diga, eu posso
misturar metro assim? ou tomo por suposto:
(que fique então como um segredo nosso)
misturar metro assim? ou tomo por suposto:
(que fique então como um segredo nosso)
não pode misturar, não é questão de gosto!
você, soneto, entende desse troço
explique bem pra mim, que estou sempre disposto.
você, soneto, entende desse troço
explique bem pra mim, que estou sempre disposto.
***
não force a amizade, certeza que é feio
juntar mais de um metro no mesmo soneto
desculpe, meu caro, bem sei, me intrometo
não posso evitar, me chateio
desculpe, meu caro, bem sei, me intrometo
não posso evitar, me chateio
não quero ser chato, direi sem rodeio:
é feio! desculpe, eu prometo
tentar ficar quieto, que estou obsoleto
tentar não dizer (no que eu creio!)
é feio! desculpe, eu prometo
tentar ficar quieto, que estou obsoleto
tentar não dizer (no que eu creio!)
pois faça o poema, não pare no meio
escreva, bagunce o coreto
não ouça o conselho, nos mostre a que veio
escreva, bagunce o coreto
não ouça o conselho, nos mostre a que veio
mas isso se chama "panfleto"
não quer que eu reclame, que diga que é feio
é só não chamar de “soneto”.
não quer que eu reclame, que diga que é feio
é só não chamar de “soneto”.
***
sexta-feira, 7 de outubro de 2016
Bolo de Fubá
o açúcar e o óleo, três ovos, farinha
dois copos de leite, fubá, pó royal
colher de manteiga, pitada de sal
- tem tudo facinho na sua cozinha
um queijo ralado não vai nada mal
pôr doce de leite também faz a minha,
não bata demais ou seu bolo esfarinha
nem bata de menos, não fica legal
ao leite, à manteiga e ao açúcar, batidos,
acresça o fubá e outros ingredientes
despeje esse creme, no tempo devido,
em alguma assadeira, num recipiente
untado em farinha, use um forno aquecido
e pronto, o trabalho acabou. sirva quente.
quinta-feira, 22 de setembro de 2016
Primavera
setembro, quando passa do equinócio
eu sinto que há no mundo um reinício
que a vida encontra o tempo mais propício
brotando fulgurante, doce e dócil
beleza que não teme desperdício
convida a aproveitar mais leve o ócio
Primavera zelosa, um sacerdócio
que só finda em dezembro, no solstício
celebrando a estação mais amorosa
colorem nossas ruas versos, rosas
sorrisos e fragrância de alfazema
surgem ninhos, abelhas, girassóis
momentos menos eu e mais pra nós
Natura declamando seus poemas
eu sinto que há no mundo um reinício
que a vida encontra o tempo mais propício
brotando fulgurante, doce e dócil
beleza que não teme desperdício
convida a aproveitar mais leve o ócio
Primavera zelosa, um sacerdócio
que só finda em dezembro, no solstício
celebrando a estação mais amorosa
colorem nossas ruas versos, rosas
sorrisos e fragrância de alfazema
surgem ninhos, abelhas, girassóis
momentos menos eu e mais pra nós
Natura declamando seus poemas
quinta-feira, 14 de julho de 2016
noite alta
são três da madrugada, eu acordado,
e tenho compromisso logo cedo
desligo a luz mas frito, preocupado,
nem quero dormir mais, vai que eu me excedo...
mas se não durmo eu viro um arremedo
se apago e perco a hora estou ferrado
são três da madrugada, eu acordado,
e tenho compromisso logo cedo
desligo a luz de novo, estou cansado
se passo a noite em claro fico azedo
parece até mandinga, mau olhado
será que acordo a tempo? estou com medo...
são três da madrugada e eu acordado
e tenho compromisso logo cedo
desligo a luz mas frito, preocupado,
nem quero dormir mais, vai que eu me excedo...
mas se não durmo eu viro um arremedo
se apago e perco a hora estou ferrado
são três da madrugada, eu acordado,
e tenho compromisso logo cedo
desligo a luz de novo, estou cansado
se passo a noite em claro fico azedo
parece até mandinga, mau olhado
será que acordo a tempo? estou com medo...
são três da madrugada e eu acordado
terça-feira, 12 de julho de 2016
andei pensando
andei falhando para com o império
fugi mentindo como um salafrário
me batalhando quase sem salário
brinquei fingindo parecendo sério
me consumi produto e o operário
fingir não ser se revelara estéril
meu parecer soava um despautério
ao outro em mim que pereceu contrário
me fiz mistério que sumi querendo
meu outro otário descobrisse um tanto
foi tão hilário lá me dedurando
o cara sério que eu andava sendo
e como tudo está bem por enquanto
andei querendo quase que pensando
terça-feira, 5 de julho de 2016
Barnasiano
olá, caro confrade, o que me conta?
há tempos que não venho ao BdE
que a minha inspiração é como é
frequentemente foge e desaponta
há tempos que não venho ao BdE
que a minha inspiração é como é
frequentemente foge e desaponta
você me atualize, qual a nova
discussão literária, qual a treta?
e o povo, anda mais doido ou mais careta?
e os textos, tem haicai, soneto, trova?
discussão literária, qual a treta?
e o povo, anda mais doido ou mais careta?
e os textos, tem haicai, soneto, trova?
tem música, pintura, cantoria?
lançamos nossa 6ª antologia
na Flip? e como foi em Paraty?
lançamos nossa 6ª antologia
na Flip? e como foi em Paraty?
saudades dos amigos do boteco
então, enquanto eu encho o meu caneco,
me conte... o que é que rola por aqui?
então, enquanto eu encho o meu caneco,
me conte... o que é que rola por aqui?
domingo, 10 de abril de 2016
Carla
a bala da balada se acabava
a Carla, ela topava toda e cada
atrás da saia eu lá, pista lotada
e a gata, arregalada, estava escrava
da tal batida tosca, que irritava
até mais que os
babacas da balada
e a Carla acalorada lá, fritada
pingava alada e quente feito lava
deixava hipnotizada a carne fraca,
que eu dava a cara a tapa, dava pala
e um balde d’água. a louca chapa paca
trincada agarra atraca tara e fala
que acinto co a
balada, co a ressaca
que aguento o bate-estaca pra pegá-la.
sábado, 12 de março de 2016
pressa
há justificativa pra essa pressa
ou já nem sabes mais pra onde iria?
a agenda, que te acaba, recomeça
tão cheia e ao mesmo tempo tão vazia
tem hora e compromisso, noite e dia
e é tudo que te importa e te interessa
há justificativa pra essa pressa
ou já nem sabes mais pra onde iria?
se acaso ocorre atraso já te estressas
até no teu prazer há correria
com o olho no relógio, e mais depressa
te pões a devorar comida fria
há justificativa pra essa pressa?
quinta-feira, 3 de março de 2016
Pai
lá dentro do caixão está meu velho
e agora já não posso ser o filho
os pêsames ressoam estribilhos
repetem-se pesares e conselhos
meu pai lá no caixão está defunto
nem é ele que está, já não existe
e eu sinto... o que que eu sinto? estarei triste?
estou pior que triste, eu morri junto
lá dentro do caixão termina o cara
com quem sempre contei até agora
foi forte, foi gentil, mas foi-se embora
e agora, caso eu caia, nada ampara
está morto, encerrado, acaba o homem
um corpo que se enterra e os vermes comem
quarta-feira, 2 de março de 2016
Apaixonado
enquanto eu ria vindo e me perdia
te fiz declarações em cada esquina
ensaiei as canções e poesias
(às vezes, me acordando, uma buzina)
enquanto eu vinha, bobo de alegria
repleto da paixão mais genuína
o mundo me encantava, em tudo eu via
motivos pra lembrar minha menina
sonhei este sorriso que aconchega
pintei coraçõezinhos no caminho
te trouxe de presente verso e flor
pois nada se compara
a ser piegas
rimar nosso desejo com carinho
e ver a nossa história a se compor
segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016
Noturno
a luz me apaga a luz da inspiração
o texto era melhor
quando no escuro
se acendo o lampiao perco
e procuro
o verso que já estava em
minha mão
como esse houve outros
vários, um milhão
brilhantes, e na noite eu
os capturo
da mais rara beleza, eu
asseguro
mas sob a luz do dia já
não são
chegando o sono eu ouço
uma canção
soprando algo que existe
além do muro
? ou sou só eu fazendo
confusão
sonhando sou sonâmbulo e
murmuro?
não poderei provar, dirão
que não,
mas era bom, eu digo,
teimo e juro.
Página (a Leminski)
está página, por exemplo,
na nuvem, não foi semente
nem sombra deste planeta
possível presa de tempo
possível fi-la de besta
essa página é pra lida
desmerece tradução
e não fica ressentida
da ditadura do vão
nos longes do tempo infindo
das sombras de uma intenção
não prestou pra estar impressa
teimará mera impressão
como imagem refletida
no vídeo - tela a visão.
na nuvem, não foi semente
nem sombra deste planeta
possível presa de tempo
possível fi-la de besta
essa página é pra lida
desmerece tradução
e não fica ressentida
da ditadura do vão
nos longes do tempo infindo
das sombras de uma intenção
não prestou pra estar impressa
teimará mera impressão
como imagem refletida
no vídeo - tela a visão.
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016
maravilhosa
“a
vida deve ser maravilhosa!”
incita co essa cara de quem cobra
incita co essa cara de quem cobra
enquanto
a vida engana, faz manobra
e acaba com seu sonho cor-de-rosa
“a vida deve ser poema e prosa!”
e acaba com seu sonho cor-de-rosa
“a vida deve ser poema e prosa!”
insiste,
e conta o pouco que lhe sobra
mas,
caso deva, a vida não se dobra
aos cálculos
de o quanto é valiosa
se deve, a vida nega, não admite
e mesmo ameaçada ela não paga
posterga pro futuro, inventa estória
aceite o prejuízo, dê por quite
quem sabe fique bom no fim da saga?
diz que a morte resgata a promissória...
se deve, a vida nega, não admite
e mesmo ameaçada ela não paga
posterga pro futuro, inventa estória
aceite o prejuízo, dê por quite
quem sabe fique bom no fim da saga?
diz que a morte resgata a promissória...
terça-feira, 23 de fevereiro de 2016
exercício alexandrino
Um mano sugeriu que eu fizesse um soneto
em verso alexandrino: hemistíquios, cesura
a tônica na sexta e, seguindo a moldura,
na décima segunda. Eu, por mim, não prometo
que saia grande coisa: esse ritmo é correto?
a rima é consoante, enlaçada e segura
só com palavra grave. Agradeço a leitura
porém já lhes advirto: isto é um mero projeto
não chega a ser poema, é somente exercício
pra sustentar o vício, o fetiche por regra
e aqui nesta bodega exercer meu ofício
que não é sacrifício, uma vez que me alegra
(e agora a rima pega... oh, meu deus, que suplício...)
Faltou a chave d ouro, eu já sei. Desapega.
domingo, 21 de fevereiro de 2016
Classe
aqueles olhos, como fitos na verdade
visão perfeita, mais que lindos, brilham sábios
aqueles lábios, ah, meu deus, aqueles lábios
quase me fazem implorar por caridade
nado e me afogo no oceano que me invade
como um tsunami de desejos indizíveis
sonho mil beijos nesses lábios impossíveis
mas confessar-me a uma deusa, eu hei? quem há-de?
e me demoro contemplando aquela face
querendo o enlace em minha noite eu a suponho
como se perto ela estivesse, e eu respirasse
sentindo o cheiro de sua pele, e sigo, em sonho,
hipnotizado por seu corpo e sua classe
e cedo ou tarde o quanto quero eu lhe proponho.
visão perfeita, mais que lindos, brilham sábios
aqueles lábios, ah, meu deus, aqueles lábios
quase me fazem implorar por caridade
nado e me afogo no oceano que me invade
como um tsunami de desejos indizíveis
sonho mil beijos nesses lábios impossíveis
mas confessar-me a uma deusa, eu hei? quem há-de?
e me demoro contemplando aquela face
querendo o enlace em minha noite eu a suponho
como se perto ela estivesse, e eu respirasse
sentindo o cheiro de sua pele, e sigo, em sonho,
hipnotizado por seu corpo e sua classe
e cedo ou tarde o quanto quero eu lhe proponho.
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016
livre iniciativa
Eu não faço nada, o poema, sozinho
se sai declamando, se escreve e se inspira
confessa e arrepende, então chora, suspira...
...eu fico assistindo tomando meu vinho!
Poema se achando mais flor do que espinho
faz pose e quer brilho, tem sonhos de lira
se vê em molduras, no espelho se admira
enquanto eu o observo, vaidoso e mesquinho.
Poema confuso, o poeta, um omisso
não viu nada disso, servil, não fez conta
engana que é gosto, perdoa que é vício
distrai-se com rimas, não deixa uma ponta
repete a desculpa "eu não fiz nada disso
brotou todo escrito, que a coisa vem pronta".
se sai declamando, se escreve e se inspira
confessa e arrepende, então chora, suspira...
...eu fico assistindo tomando meu vinho!
Poema se achando mais flor do que espinho
faz pose e quer brilho, tem sonhos de lira
se vê em molduras, no espelho se admira
enquanto eu o observo, vaidoso e mesquinho.
Poema confuso, o poeta, um omisso
não viu nada disso, servil, não fez conta
engana que é gosto, perdoa que é vício
distrai-se com rimas, não deixa uma ponta
repete a desculpa "eu não fiz nada disso
brotou todo escrito, que a coisa vem pronta".
terça-feira, 16 de fevereiro de 2016
pequenos defeitos
pois eu nunca tive defeitos pequenos
há tempos não peno sonhando-me o eleito
exceto uns senões sou até bom sujeito
tirante o sem jeito até sou mais ou menos
o réu mais direito a mim mesmo condeno
confuso e sereno confesso e suspeito
beirando ao ingênuo meu caos é conceito
demais contrafeito do próprio veneno
sou juras e juros cobrados na fonte
desculpas aos montes e enormes securas
temendo a censura que vê no horizonte
do meio da ponte meu salto procura
que a própria paúra por fim se amedronte
e um verso desponte de cada fratura
há tempos não peno sonhando-me o eleito
exceto uns senões sou até bom sujeito
tirante o sem jeito até sou mais ou menos
o réu mais direito a mim mesmo condeno
confuso e sereno confesso e suspeito
beirando ao ingênuo meu caos é conceito
demais contrafeito do próprio veneno
sou juras e juros cobrados na fonte
desculpas aos montes e enormes securas
temendo a censura que vê no horizonte
do meio da ponte meu salto procura
que a própria paúra por fim se amedronte
e um verso desponte de cada fratura
sábado, 13 de fevereiro de 2016
umas trovas
***
progride a desesperança
a ignorância cresce bem
a vaidade quase alcança
o medo que a gente tem
***
acaba-se a controvérsia
se combinarmos assim:
vencemos juntos a inércia
eu, me, eu mesmo e meu mim
***
porque então me dilacera
essa sensação ignóbil
como um mostro, como fera...
...eu não quero ficar sóbrio!
***
que o real não me respalda
que não passa de utopia
eu sei e sabe essa lauda
(vou dizer que não sabia)
***
fico dentro dos conformes
silencio os cotovelos
diante de olhos enormes
alguém mais poderá vê-los?
***
progride a desesperança
a ignorância cresce bem
a vaidade quase alcança
o medo que a gente tem
***
acaba-se a controvérsia
se combinarmos assim:
vencemos juntos a inércia
eu, me, eu mesmo e meu mim
***
porque então me dilacera
essa sensação ignóbil
como um mostro, como fera...
...eu não quero ficar sóbrio!
***
que o real não me respalda
que não passa de utopia
eu sei e sabe essa lauda
(vou dizer que não sabia)
***
fico dentro dos conformes
silencio os cotovelos
diante de olhos enormes
alguém mais poderá vê-los?
***
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016
às vezes tenho medo
“pois muita gente mente/ pois muita gente dá a mão/ só para empurrar”
...............Cólera
e quem não sente, meu compadre, a solidão?
a raiva e a frustração, o ódio e a indiferença
o muito que se cobra, os poucos que se dão
planeta consumido e toda a gente tensa?
será por grana e glória? alguém crê que compensa
enaltecer doença enquanto todos são
cobaias dum sistema em que reina a descrença
e o poder da aparência é maior que a razão?
ninguém vai ajudar porque ninguém se importa
se Inês vive ou se é morta ou quantos mais serão
fuzilados na rua enquanto eu fecho a porta
mortos por fome e sede ouvindo sempre um não
pois ninguém dá a mão, não salva nem conforta
ninguém mais se suporta e nosso grito é vão.
terça-feira, 9 de fevereiro de 2016
Mínimas
marés
não fica ao ponto
nem chega a prumo
nem chega a prumo
nunca há desconto
sempre a consumo
sempre a consumo
...
pré ferida
desse a ladeira
fez se descida
pôs-me entre tantos
fez se descida
pôs-me entre tantos
nus pêlos cantos
...
sem doma
de instinto crente
vinha tinta
mistura
vinha tinta
mistura
espora criatura
consinta
ao dente
cura.
...
In
e me disse
leve o enlace
faça a face
vide em riste
leve o enlace
faça a face
vide em riste
pôs-se em passe
séu limite
séu limite
...
sábado, 6 de fevereiro de 2016
Má
"Minha bela Marília, tudo passa
a sorte deste mundo é mal segura"
Tomás Antônio Gonzaga
então, Marília linda, caminhemos
por parques, pelos prados, pelas praias
aproveitemos ovações e vaias
façamos logo enquanto nós podemos
conheçamos, Má, meios e os extremos
que os outros todos são nossas cobaias
pegue umas roupas, suas minissaias
não temas nada pois nós tudo temos
vivamos livres como dois canalhas
quem sabe um dia um banco a gente assalta
fugimos ricos pra Ilhas Canárias
e aí, pra sempre, é curtição, na flauta
você, dinheiro e a veia literária
e nada mais no mundo me faz falta
sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016
ais
ah, se fosse mais que ais
se me desatasse nós
se não me deixasse só
tão semente com meu caos
nas funduras abissais
do mar e feito de pó
se amansasse esses chacaistão semente com meu caos
nas funduras abissais
do mar e feito de pó
com gravatas, paletós
ah, se fosse em mim a foz
ou se me ensinasse o cais
ah, se fosse em mim a foz
ou se me ensinasse o cais
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016
lesado
às vezes acho que eu fiquei lesado
pois quanto mais concentro mais me espalho
se acerto creio que algo esteja errado
me atraso toda vez que tento o atalho
conservo com carinho o que é quebrado
se é fácil certamente me atrapalho
às vezes acho que eu fiquei lesado
pois quanto mais concentro mais me espalho
duvido quando está mais que provado
de férias desenvolvo meu trabalho
passeio pela paz mas vou armado
enquanto o céu desaba eu só gargalho
às vezes acho que eu fiquei lesado
sábado, 30 de janeiro de 2016
ex posição
agora a desculpa é difícil
de exposto a qualquer sacrifício
eu quero persigo
carrego comigo
e o tempo consuma meu vício
agora não guardo segredo
nem volto pra casca tão cedo
estampo meu grito
cansaço conflito
e a vida modele outro enredo
agora o destino dispensa
as exclamações reticências
o olho o ouvido
o senso o sentido
ensinam cinismo à consciência
de exposto a qualquer sacrifício
eu quero persigo
carrego comigo
e o tempo consuma meu vício
agora não guardo segredo
nem volto pra casca tão cedo
estampo meu grito
cansaço conflito
e a vida modele outro enredo
agora o destino dispensa
as exclamações reticências
o olho o ouvido
o senso o sentido
ensinam cinismo à consciência
domingo, 24 de janeiro de 2016
Recado
acontece que sei que seis leitores
visitam minhas páginas estranhas
e me perdoam linhas tão tacanhas
clichês, algum nonsense, os maus humores
e enxergam coisas boas nos meus textos
e embora saiba (eu sei!) que não mereço
tal gentileza ajuda no processo
e o seu apreço é meu melhor pretexto
refaço então meus versos re-sentidos
como quem diz mentira ao pré do olvido
já que não crio há tempos nada inédito
e o blog assim não fica tão inerte
meu verso velho volta e se diverte
enquanto eu agradeço e gasto o crédito.
visitam minhas páginas estranhas
e me perdoam linhas tão tacanhas
clichês, algum nonsense, os maus humores
e enxergam coisas boas nos meus textos
e embora saiba (eu sei!) que não mereço
tal gentileza ajuda no processo
e o seu apreço é meu melhor pretexto
refaço então meus versos re-sentidos
como quem diz mentira ao pré do olvido
já que não crio há tempos nada inédito
e o blog assim não fica tão inerte
meu verso velho volta e se diverte
enquanto eu agradeço e gasto o crédito.
sexta-feira, 22 de janeiro de 2016
pacabá
eu planto sim, mas só pro meu consumo
ficar puxando o saco? ah, mano, pára
sei bem o quanto amigo é coisa rara
nos dedos de uma mão faço o resumo
à falsidade nunca me acostumo
safado tirand' onda co'a mi'a cara
o sangue ferve, truta, o coração dispara
e perco a paciência, o ritmo e o prumo
podia estar matando, estar num furto
mas fico aqui de boa, véi, eu curto
botar minhas bobagens num papel
no mais fundo da mente eu sou favela
e enquanto a outra é longe, etérea e bela
a minha musa é boa e dança créu
terça-feira, 19 de janeiro de 2016
Trottoir
é noite e microssaias nos passeios
ofertam seus serviços e atributos
circulam carros lentos, vários putos
perguntam preço, pedem fantasia
e - regra de mercado - negociam
fetiches, taras, permissões, minutos
cavalas dadas mostram dentaduras
com hálitos de menta e de malícia
certezas e segredos são premissas
desejos e vaidades queimam freios
sussurros solitários pedem beijo
insatisfeitas lábias à procura
à noite alguns desejos ganham fúria
e tons enrubescidos são desfeitos
de madrugada o nome faz sentido
e a puta assume a máscara que cria
patroa, amiga e a própria criatura
rebola entre a cobiça e a água fria
ciente que alma triste não tem cura
também sabe que um trago já alivia
e o dia que alvorece tão sem culpa
ofende como fosse hipocrisia
sábado, 16 de janeiro de 2016
Quarenta
completo em breve os meus quarenta anos
dois terços desta vida, eu imagino
é claro, não conheço meu destino
mas, como tantos outros, faço planos
para estes planos dou-me vinte anos
até que a morte chegue com seus sinos
portanto em vinte anos eu termino
meu livro e deixo ao tempo soberano
serei feliz ou triste? vale a pena?
a solução não cabe no poema
o verso não diz preço nem tem nome
se há alma não me arrisco, achei pequena
a vida (e é cada um com seus problemas)
e o tempo me consuma e me consome.
dois terços desta vida, eu imagino
é claro, não conheço meu destino
mas, como tantos outros, faço planos
para estes planos dou-me vinte anos
até que a morte chegue com seus sinos
portanto em vinte anos eu termino
meu livro e deixo ao tempo soberano
serei feliz ou triste? vale a pena?
a solução não cabe no poema
o verso não diz preço nem tem nome
se há alma não me arrisco, achei pequena
a vida (e é cada um com seus problemas)
e o tempo me consuma e me consome.
Assinar:
Postagens (Atom)