domingo, 8 de agosto de 2010

Nem...

Nem tudo mede a balança
nem tudo vende na feira
nem tudo é só brincadeira
nem todo xote é pra dança
nem toda noite é criança
nem todo truco tem tento
nem toda dor tem alento
nem é sempre a poesia
mas tristeza é todo dia
quando a saudade é tormento

nem sempre cesto faz cento
nem toda nuca arrepia
nem toda droga vicia
nem todo choro é lamento
nem todo vinho é tão bento
nem todo verde, esperança
sem tudo o que cai, balança
nem sempre é boa a vizinha
nem veio - e disse que vinha!
Nem todo xote é pra dança.

nem sempre esperando alcança
nem tudo que sobe, desce
nem toda dor adormece
nem todo exercício cansa
nem sempre vem a bonança
logo depois da tormenta
nem toda cerca arrebenta
nem sempre faço o que disse
nem sempre se elege o vice
nem todo verso acrescenta

nem toda estrada é tão lenta
nem todo angu tem caroço
nem toda festa, alvoroço
nem todo leitor comenta
nem todo erro tem ementa
nem toda moça faz trança
nem sempre rende a poupança
nem sempre vale a intenção
nem todo santo é cristão
nem todo sono descansa

nem todo touro é tão manso
nem toda bruxa pressente
nem meu silêncio consente
nem todo sinal avanço
nem todo pescoço é ganso
nem todo barulho é vento
nem tudo que quero eu tento
nem todo sábado é festa
nem todo poema presta
nem, com tão pouco, contento.

(nem todo boteco eu sento
nem toda mula se empaca
nem todo leite é de vaca
nem tudo que conto, aumento
nem todo olho é tão atento
pra entender a diferença
nem todo frio condensa
nem todo oculto é sujeito
nem toda mágoa é despeito
nem todo crime compensa.)

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