domingo, 29 de maio de 2011

vice versa

procurando um vice versa
reverso de se esperar
desconvite de conversa
meu vício versa no bar

desdém anda e se diz persa
conta branda a beira-mar
um vento verde de inércia
ali vaga e vai ficar

passa a vista predileta
quase nada fosse ainda
visita feito cometa

fez-se foice finge finda
co um cara assim tão careta
minha capeta tão linda...

domingo, 15 de maio de 2011

Sujeito

se rolasse que minh’alma fosse minha
se de fato fosse um’alma o que me fosse
se meu cérebro seguisse a mesma linha
como fosse de nascença ou mais precoce

se eu perdesse de ofendido o agridoce
do discurso que de pronto se encaminha
ou gostasse como um vice que se emposse
me apossasse da crendice e ladainha

caso o tempo fosse eterno e repetisse
o que disse e fez de novo mesmo jeito
fosse tudo condenado à tal mesmice

ou se Nietzsche melhorasse em meu conceito
consciência como eu quase mas não disse
porque seja como for estou sujeito.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Onde?

Achei que ela estivesse já no papo
do nada então sumiu a poesia.
Procuro-a. Você sabe onde andaria?
Está cuspindo abelha? Engole sapos?

Tortura-me a pergunta: em que buraco
está? Por que razão se esconderia?
Ressaca, está doente da folia?
Não tem mais paciência, encheu o saco?

Será que onde ela está não tem correio?
Será que ela não abre mais o e-mail?
Será que se escondeu numa caverna?

Não sei por que sumiu, como abduzida,
mas nunca teve instinto suicida...
Não creio que está morta, acho que hiberna.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Cais

servo do bizarro
fixa os olhos no petróleo
para nossos carros

mais lama derrame
enquanto invade a Tailândia
um outro tsunami

(mas isso é raso, lógica simplista
montando uma equação de perda e ganho
o mundo é pra você o mesmo estranho
embora seu tamanho salte à vista)

degelo se faça
desabe desde a Antártica
até nossa taça

floresta se queime
decerto algo se preserva
no vídeo game

(de novo impera a lógica mais rasa
desastres surgem junto do argumento
perdido entre mentiras e lamentos
seu mundo nem parece a minha casa)

há centro e limite
relembre a fúria do tempo
ao nosso apetite

espasmo daqui
faz votos de terremoto
e vai ao Haiti

(o medo quer manter a vida acesa
e espera que sejamos sustentáveis
mas sermos destrutivos, descartáveis
faz parte dessa estranha natureza)