Posto fossem só mistérios sem enredo
que fizeram pouco o pouco que restara
do carinho que acabava tão na cara
já cansada e mal dormida desde cedo
Posto fossem só mentiras, sem história
que fizeram gumes, cacos e demências
e que fossem, como foram, displicências
que assanharam nossa verve acusatória
Quando eu olho pro passado fico tenso
percebendo as rugas, rusgas dessas horas
nos espelhos, minha cara, quando penso
raso ou denso, no não-ser e nu lá fora
sinto dor, melancolia, um ódio imenso
do suspenso, do que foi, do que é o agora.
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selecionado no IX Prêmio Literário Livraria Asabeça 2010
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