sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Apaixonado

Enquanto eu vinha rindo e me perdia
te fiz declarações a cada esquina
Ensaiei as canções e poesias
(e o mundo me aturando, gente fina)

Enquanto eu vinha nada mais havia
Além do sonho: ver minha menina
E tudo me encantava e me sorria
(paixão tão forte ao mundo contamina)

Flutuei pra este colo que aconchega
Deixei coraçõezinhos no caminho
E trouxe de presente beijo e flor

Pois nada se compara a ser piegas
Rimar nosso desejo com carinho
E ver a nossa história se compor.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Página (a Leminski)

Esta página, por exemplo
de bites não foi cortada
nem sombra neste planeta
provável fazer de tonta
possível fi-la besta

Esta página é pra lida
nem precisa tradução
e não ficará sentida
da ditadura do vão

Nos longes do tempo infindo
das sombras da intenção
não se fez pra ser impressa
restará mera impressão
uma imagem refletida
no vídeo, tela-visão.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Carla (na balada)

a bala da balada é que abalava
a Carla, e ela topava toda e cada
atrás da saia eu caio na emboscada
que a gata, já trincada, estava escrava

da tal batida tosca, que irritava
até mais que os babacas na balada
e a Carla acalorada lá, fritada
suava alada e quente feito lava

deixava embasbacada a carne fraca,
que eu dava a cara a tapa, dava pala
e um balde d’água. a louca chapa paca

me atiça a tara, agarra enquanto fala
que aguento até babaca, essa ressaca,
que aguento um bate-estaca pra pegá-la.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Morramos

Morramos, pois iremos aos velórios
e anotaremos nomes nos jornais
diremos “foi um santo esse rapaz
em tudo tão incrível e notório”

Esgotaremos nosso repertório
de loas, elogios imorais
Repetiremos velhos rituais
diante duma cova ou crematório

Confusos e assustados como bichos
que somos de inverdades e cochichos
em meio às paranóias do não-vida

Morramos, pois o dia é tão propício
Morramos, pra que a festa tenha início
Morramos todos, bestas suicidas.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Quem pagasse

Acontece que a vida
não pode dar prejuízo
maior que uma dor de dente

Além de agüentar tirano,
de ter que extrair o ciso,
seu amor, que te ignora,
do medo, que desde agora
frustra todo e qualquer plano,
não pode dar prejuízo!

São clamores imprecisos,
a vida vem de presente!
Se bem que em contrapartida
nos abre alguma ferida,
não pode dar prejuízo
maior que uma dor de dente!

A vida, doida varrida,
depois de tudo perdido,
sossego, grana e seu dente,
tudo insano e tudo urgente
não será, ainda, a vida,
pior que uma dor de ouvido!