sábado, 28 de novembro de 2015

Quarto e sala

restou-me esta tristeza tão doída
sozinho tudo agora é descompasso
o mau humor lotou meu pouco espaço
me aperto aqui sem sono nem saída

sobrei com louça, roupa e minha vida
e caravanas ladram quando eu passo
a memória organiza um panelaço
exige a direção que foi perdida

fiquei com microondas, frigobar
e a cada dia mais roto e rasgado
querendo e tendo medo de encontrá-la

eu só, sem lado ou voz, sem vez nem par
sofrendo e tendo dó do meu estado
fritando a noite neste quarto e sala

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Da diarreia de D. Pedro I


numa mula, e co uma bruta diarreia
nosso príncipe D. Pedro enfim se zanga
lendo a carta ali, às margens do Ipiranga
e resolve entrar pra história da plateia

se sentindo a mais rainha da colmeia
solta um berro pra juntar os seus capangas
sobe um morro, tira a espada e solta a franga
diz "nem morto abdicarei de minha aldeia

vou seguir esta novíssima tendência
- impressiona como a Europa anda mudada -
vocês paguem pela minha independência

e eu não volto, reino aqui, não pega nada
que se cumpra, diga ao povo, dê ciência
com licença que eu vou dar outra cagada

domingo, 15 de novembro de 2015

Medindo a crítica

Definitivamente de mau gosto
aprisionar o verso com a métrica
A forma antiga usar? coisa patética!
arrisca a descambar pro lado oposto


por isso eu vim aqui deixar exposto o
desgosto que me dá tão tosca estética
pra mim é um atentado contra a ética
escritor que se preza vira o rosto

Porque se fosse assim bastava a prática
quem dominasse bem a matemática
poderia alegar que tem talento

mas não, só livre o texto é poesia
a forma fixa dá claustrofobia
se for pra medir verso eu me aposento.