segunda-feira, 24 de maio de 2010

Falhando

Falhando



Andei falhando para com o império
Fugi temendo como um salafrário
Me torturando quase por salário
Andei mordendo parecendo sério

me consumindo, comum operário
meu parecer se revelando estéreo
Ia engolindo um pouco de impropério
meu outro ser que pereceu contrário

Me fiz mistério que sumi querendo
meu outro otário descobrisse um tanto
Fui tão hilário quase dedurando

É pelo etéreo que eu andava sendo
E tudo crendo comum por enquanto
Andei querendo quase que pensando

sábado, 1 de maio de 2010

Trovas

Alguns

Acaba-se a controvérsia
se combinarmos assim:
saem quatro da inércia
- eu, me, eu mesmo e mim.

***

Quase nada

Quase nada ando dizendo
falo já sonambulando
repetindo o que anda sendo
desde sempre, vez em quando.

***

Ouvi tantos estribilhos
quase insanos, surreais...
Como estórias fossem filhos
Como letras fossem mais.

***
Passou...

E terríveis pedras eram,
no caminho, traiçoeiras...
Mas em pó se desfizeram,
Antes pedra, hoje poeira...

***

Os sérios

Certos nobres, em revide,
desfilam tais impropérios
por serem, não se duvide,
homens de bem, os mais sérios.

***

Meu sonho

Que o real nunca respalda,
que não passa de utopia
eu sei e sabe essa lauda
...vou fingir que não sabia.

***

No banco (levemente alterado)

No banco (levemente alterado)

Todos os meses visito o gerente da agência bancária que controla meus débitos, ao menos uma vez ali pelo fim do mês, comecinho d’outro. Ontem, novamente, lá estava eu, conta irregular e cartão invalidado, aguardando na fila com assistente social, oficial de justiça, advogado e moça sei lá o quê, executada num processo qualquer, talvez. Cabe esclarecer, pra quem não adivinhou, que é uma daquelas agências de dentro dum fórum, exclusivas para servidores e questões jurídicas. Ah, sim, e eu, um dos badecos de lá, estava em horário de trabalho que precisaria compensar depois, pouco afeito à idéia de que a espera demorasse, e já se iam vinte minutos, dia de pagamento.
Minha colega Regina estava já no caixa, eu o próximo, quando uma moça loura, seus vinte e poucos anos, chega, olha pra Dulce, a caixa do banco, olha pra fila, e entra tomando minha frente, justo quando Regina terminava suas questões e saía. Eu, instintivamente – Ei, moça, tem fila!! – e ela me ignorou. Insisti no “moça, tem fila!!” e ela em não me ouvir. Dulce olhou de um jeito estranho, que interpretei como um “O que você disse?”. – Nada não, respondi em voz alta mesmo.
Primeiro, para justificar minha percepção tacanha, questões arquitetônicas: a dita agência é bem pequena, tem um só caixa, a Dulce, e o gerente, Vicentinho. A fila fica do lado de fora e no momento que chegou a senhorita fura-filas restavam apenas a executada e eu, não nessa ordem, aguardando atendimento. Realmente, cri por um instante que aquela atitude pouco cidadã se devesse à indecisão sobre se aquilo se tratava ou não de uma fila.
E depois uma questão sociológica: a moça parecia do que chamam boas origens, olhos verdes, cabelos muito lisos, pequena, menos de 1,60 metros, em roupa social leve, ar altivo, uma advogada patricinha na minha avaliação, apressada como ela.
Depois de várias contas pagas, transações bancárias e atualizações cadastrais realizadas, chegou minha vez de pedir aumento no limite de crédito e ser informado que a fura-filas se chamava Dra. Alguma Coisa, juíza substituta com quem eu trabalharia a partir daquele dia. Fui informado pelo Vicentinho – É foda, né?! Ainda bem que nem todos são assim. – Ainda bem, respondi e respondo.
Devo dizer que como completo bundão que sou tremi nas bases quando soube de quem se tratava. – Você sabe com quem está falando? - Ouvi sem falarem, e eu não sabia, que se soubesse não me atreveria a repreendê-la. Abandonei a disposição à luta inglória, a tentar catar o Mike Tayson no soco.
Mas que seria bom... Mas que seria ótimo ter o PODER é sem dúvida. Atravessaria filas pelos bancos do mundo, que é muito melhor que débito automático ou office-boy. Jamais usaria a internet nem o auto-atendimento, que aprendi a empáfia.