domingo, 20 de março de 2011

Agouro

O medo que me dá meu olho esquerdo
enquanto me anuncia outra tragédia
tremendo, que não vou morrer de tédio
meu olho prenuncia que vem merda

O dia fica estranho, eu fico aéreo
co a porta da crendice meio aberta
rangendo, e como a coisa fosse séria
meu medo um olho observa bem de perto

O risco que me esgarça pelo avesso
um cerco que se estende e não dispersa
pressinto não sabendo se mereço
meu mundo gira lento e controverso

Um olho que executa meu sequestro
me ataca, e toda culpa se confessa
aguardo que o destino bote o preço
do quanto eu levo escrito em minha testa

quinta-feira, 17 de março de 2011

A cidade

A cidade cede luzes, cede asfalto
a seus ratos e baratas, sua elite
Requebrando um pé descalço um salto alto
altos brados, vai cantando o novo hit

A cidade pede grana, teme assalto
violenta, e que ninguém desacredite
Litorânea, lá da serra, do planalto
pisa fundo, passa muito do limite

Bebe todas, passa a noite toda insone
e amanhece criticando a vizinhança
A cidade, perna fina e silicone,

quer memória, quer notícia e confiança
Muito embora deixe nome e telefone
a cidade não te espera nem te alcança.

terça-feira, 8 de março de 2011

Bichos que voam

Encontro de corpo solto e corpo
solto
poesias entre-
outras linhas
-cortadas.
E movimento circular é dança
nuvem de imaginação
vôo livre
pra longe daqui
longe de longe de longe
daqui.

Olha, nada sei de beleza além da compreensão
nada sei de distinguir
coisas feias de coisas tristes
mas repara...
a arrogância dos insetos
a arrogância dos felinos
a arrogância dos modestos
a arrogância dos cretinos.

terça-feira, 1 de março de 2011

Ais

Ah, se fosse mais que ais
e se desatasse nós

e não me deixasse só
tão-semente com meu caos

nas funduras abissais
do mar e feito de pó

enfrentando tais chacais
com gravatas, paletós

sonhando venha um após
como não se viu jamais